História
Já no Antigo Egito era utilizada um
material feito de gesso calcinado como aglomerante. Entre os gregos e romanos,
eram usados solos vulcânicos das proximidades de Pozzuoli ou da ilha de
Santorini, que endureciam depois de misturadas com água.
Em 1786 o inglês John Smeaton criou uma
mistura resistente através da calcinação de calcários argilosos e moles. Esse é
o marco da criação do cimento artificial. Em 1818, o francês Vicat obteve
resultados semelhantes aos de Smeaton, pela mistura de componentes argilosos e
calcários. Tempos depois, Em 1824, o construtor inglês Joseph Aspdin queimou
conjuntamente pedras calcárias e argila, transformando-as num pó fino. Percebeu
que obtinha uma mistura que, após secar, tornava-se tão dura quanto as pedras empregadas
nas construções. A mistura não se dissolvia em água e foi patenteada pelo
construtor no mesmo ano, com o nome de cimento Portland, que recebeu esse nome
por apresentar cor e propriedades de durabilidade e solidez semelhantes às
rochas da ilha britânica de Portland.
Composição
O Cimento Portland é composto de
clínquer e de adições que distinguem os diversos tipos existentes, conferindo
diferentes propriedades mecânicas e químicas a cada um. As adições também são
ou não utilizadas em função de suas distribuições geográficas.
Cimento
|
Tipo
|
Clínquer
+ Gesso(%)
|
Escória
siderúrgica (%)
|
Material
pozolânico (%)
|
Calcário(%)
|
CP I
|
Comum
|
100
|
-
|
-
|
-
|
CP I - S
|
Comum
|
95-99
|
1-5
|
1-5
|
1-5
|
CP II - E
|
Composto
|
56-94
|
6-34
|
-
|
0-10
|
CP II - Z
|
Composto
|
76-94
|
-
|
6-14
|
0-10
|
CP II - F
|
Composto
|
90-94
|
-
|
-
|
6-10
|
CP III
|
Alto-forno
|
25-65
|
35-70
|
-
|
0-5
|
CP IV
|
Pozolânico
|
45-85
|
-
|
15-50
|
0-5
|
CP V -
ARI
|
Alta
resistência inicial
|
95-100
|
-
|
-
|
0-5
|
Clínquer
O clínquer é o principal item na
composição de cimentos portland, sendo a fonte de Silicato tricálcico
(CaO)3SiO2 e Silicato dicálcico (CaO)2SiO2. Estes compostos trazem acentuada
característica de ligante hidráulico e estão diretamente relacionados com a resistência
mecânica do material após a hidratação.
A produção do clínquer é o núcleo do
processo de fabricação de cimento, sendo a etapa mais complexa e crítica em
termos de qualidade e custo. As matéria-primas são abundantemente encontradas
em jazidas de diversas partes do planeta, sendo de 80% a 95% de calcário, 5% a
20% de argila e pequenas quantidades de minério de ferro.
Principais compostos químicos do clínquer
Silicato
tricálcico (CaO)3SiO2
|
45-75% C3 S (alíta)
|
Silicato
dicálcico (CaO)2SiO2
|
7-35% C2 S (belíta)
|
Aluminato
tricálcico (CaO)3Al2O3
|
0-13% C3 A (celíta)
|
Ferroaluminato
tetracálcico (CaO)4Al2O3Fe2O3
|
0-18% C4A F (brownmerita)
|
Gesso
O gesso (CaSO4 · 1/2 H2O) é adicionado
em quantidades geralmente inferiores a 3% da massa de clínquer, tem função de
estender o tempo de pega do cimento (tempo para início do endurecimento). Sem
esta adição, o tempo de pega do cimento seria de poucos minutos, inviabilizando
o uso. Devido a isso, o gesso é uma adição obrigatória, presente desde os
primeiros tipos de cimento Portland. Escória siderúrgica
A escória, de aparência semelhante a
areia grossa, é um sub-produto de alto-fornos, equipamentos que produzem, por
exemplo, aço a partir de minério de ferro. Entre diversas impurezas como outros
metais, se concentram na escória silicatos, que apesar de rejeitados no
processo de metalização, proporcionam-na características de ligante hidráulico.
Sendo um sub-produto, este material tem
menor custo em relação ao clínquer e é utilizado também por elevar a
durabilidade do cimento, principalmente em ambientes com presença de sulfatos.
Porém, a partir de certo grau de substituição de clínquer a resistência mecânica
passa a diminuir.
Argila pozolânica
As pozolanas ativadas reagem
espontaneamente com CaO em fase aquosa, por conterem elevado teor de sílica
ativa SiO2. Esta característica levou ao uso de pozolanas como ligante
hidráulico complementar ao clínquer, com a característica de tornar os
concretos mais impermeáveis o que é útil na construção de barragens, por
exemplo.
As pozolanas são originalmente argilas
contendo cinzas vulcânicas, encontradas na região de Pozzuoli, Italia.
Atualmente, materiais com origens diferentes mas com composições semelhantes
também são considerados pozolânicos, tais como as pozolanas ativadas
artificialmente e alguns sub-produtos industriais como cinzas volantes
provenientes da queima de carvão mineral.
O processo de ativação de argilas é
amplamente praticado pela própria indústria de cimentos, é geralmente realizado
em fornos rotativos semelhantes àqueles utilizados na fabricação de clínquer ou
mesmo em antigos fornos de clínquer adaptados, trabalhando a temperaturas mais
baixas (até 900 °C) e menor tempo de residência.
Assim como a escória siderúrgica, as
pozolanas frequentemente têm menor custo comparadas ao clínquer e só podem
substituí-lo até um determinado grau.
Calcário
O calcário é composto basicamente de
carbonato de cálcio (CaCO3), encontrado abundantemente na natureza. É empregado
como elemento de preenchimento, capaz de penetrar nos interstícios das demais
partículas e agir como lubrificante, tornando o produto mais plástico e não
prejudicando a atuação dos demais elementos. O calcário é também um material de
diluição do cimento, utilizado para reduzir o teor de outros componentes de
maior custo, desde que não ultrapassando os limites de composição ou reduzindo
a resistência mecânica a níveis inferiores ao que estabelece a norma ou
especificação.
Processo de produção
Mineração
As fábricas de cimento tipicamente se
instalam ao lado de jazidas de calcário e argila de modo a minimizar os custos
de transporte. A extração destes materiais se realiza em geral em lavras de
superfície, com auxílio de explosivos. As rochas extraídas são britadas até
atingirem tamanhos de aproximadamente 200 mm ou menos e transportadas para a
fábrica em transportadores de correia.
Clínquer
A produção de clínquer envolve uma
série de processos interdependentes em linha.
Há ainda processos de preparação e
estocagem de matérias-primas, moagem de cimento e limpeza de gases de exaustão.
Pré-homogeneização de matérias-primas
As jazidas de calcário e argila
apresentam variações de composição ao longo de suas extensões. Por outro lado,
a qualidade do produto e a estabilidade do processo de produção requerem
materiais quimicamente homogêneos. Para isso, são empregados sistemas de
empilhamento e recarregamento com longas pilhas de material, de modo a criar
camadas horizontais provenientes de diferentes lotes, que posteriormente são
misturadas no próprio processo de recarregamento.
Moagem de matérias-primas
Os materiais provenientes das pilhas de
pré-homogeneização são introduzidos em um moinho (ou mais) para que se misturem
e atinjam granulometria e umidade adequadas aos processos posteriores. Este
processo, também chamado de "moagem de cru", faz uso de gases quentes
residuais do forno de clinquerização (descrito adiante), empregados como fonte
de calor para secagem. No jargão da indústria, o produto da desta moagem é
chamado de "farinha" e de fato se assemelha a farinha de trigocom tom
bege. A farinha é armazenada em silos que também promovem homogeneização e
absorvem eventuais assincronias entre o forno e os moinhos de cru.
Os motivos para a redução de tamanho
das partículas são a homogeneização e o aumento da superfície exposta que
intensifica reações químicas e trocas de calor entre as partículas e os gases
no interior do forno.
Pré-aquecimento
Quase a totalidade dos fornos de
cimento atualmente operantes contam com torres de pré-aquecimento, responsáveis
por remover a umidade ainda restante no material (inferior a 1%) e iniciar a
descarbonatação do calcário. Os fornos de maior capacidade e mais modernos
contam com torres maiores capazes de completar quese totalmente o processo de
descarbonatação. Quanto mais eficaz o pré-aquecimento, mais curtos são fornos.
Os pré-aquecedores mais encontrados são
torres de ciclones. Dispostos em elevadas estruturas (que frequêntemente
ultrapassam 100 metros de altura), diversos separadores ciclônicos
(equipamentos capazes de retirar partículas sólidas de uma corrente de gases)
são interligados entre si atraves de tutos de imesão utilizados para troca
termica que ocorre em torno de 80% entre a farinha alimentada e gases quentes
provinientes do forno. Através da seqüência de ciclones fluem os gases quentes
provenientes do forno, em contra-corrente com a matéria prima. A medida que
esta se mistura com o fluxo de gases, ocorre transferência de calor e
transferência de massa. Nos primeiros trechos do processo, elimina-se a umidade
superficial, enquanto a temperatura permanece próxima à temperatura de ebulição
da água. A partir deste ponto, o material sólido contendo apenas umidade
intergranular passa a ser aquecido gradativamente. No fim do processo, o
material atinge de 700 °C a 1000 °C, suficiente para a água esteja eliminada e
para se iniciarem decomposições químicas da matéria-prima. Na busca de maior
produção e redução de custo estudos deram origem a mais um estágio no
pré-aquecedor conhecido como calcinador responsável por 60% a 95% da calcinação
da farinha crua nos fornos rotativos para cimento baixando a carga témica na
zona de queima e como consequência aumentando da vida útil do revestimento
refratário.
Clinquerização
Parte das reações de descarbonatação e
a formação de silicatos de cálcio e aluminatos de cálcio ocorrem no interior do
forno de cimento. Os fornos de cimento são na maioria rotativos, cilindros
horizontais de até 160 metros de comprimento. Um leve ângulo de inclinação
combinado ao lento movimento de rotação (de 0,5 a 4,0 rpm) permite que o
material percorra o cilindro a medida que desliza pelas paredes. Internamente,
há um revestimento de material refratário que protege a carcaça do forno das
altas temperaturas e conservam o calor no seu interior. A matéria prima
permanece no forno por um tempo de aproximadamente 4 horas e atinge
temperaturas clinquerização de 1.230 °C (menor temperatura produz cal e maior
temperatura apenas aumenta o consumo energético) suficientes para torna-la
incandescente e pastosa. A capacidade de produção de um forno médio é 3.000 a
4.000 toneladas por dia, os maiores fornos do mundo produzem até 10.000.
Resfriamento
Há dois principais tipos de
resfriadores empregados atualmente. Os fornos mais antigos ainda operantes
utilizam resfriadores satélites, cilindros menores solidários ao movimento de
rotação do forno, acoplados à carcaça do mesmo. Já os fornos construídos a partir
da década de 1980 geralmente são dotados de resfriadores de grelha, com
ventilação forçada, possibilitando maior taxa de transferência de calor entre o
clínquer e o ar entrante. Desta forma, se reduz a temperatura de saída do
material, recuperando parte da energia associada ao mesmo, aumentando a
eficiência do sistema.
Além da eficiência energética, os
resfriadores têm suma importância na qualidade do produto. O tempo e o perfil
de resfriamento do mesmo são essenciais para a determinação de suas propriedades
químicas finais. Lentos processos de resfriamento levam à transformação de
silicato tricálcico, instável à alta temperatura, em silicato dicálcico o que
diminui a resistência do cimento.
Hoje os resfriadores modernos além de
propicia uma ótima troca térmica também possibilita a recuperação de gases
quentes que são reutilizados no processo de fabricação, que seriam o ar
secundário auxilia na combustão na zona de queima, ar terciário auxilia na
combustão do calcinador e o ar de excesso em alguns na troca de calor do moinho
de matéria prima. O produto (clínquer) ainda é moído e diluído em gesso,
calcário e/ou escória siderúrgica para se chegar ao produto final.
Combustíveis
A produção de cimento consome muito
combustível. Geralmente utiliza-se uma combinação de diversos produtos como
óleo, coque de petróleo e resíduos industriais. Cerca de 7% das emissões de CO2
no planeta são decorrentes da produção de cimento, devido à combustão e ao
processo de descarbonatação da matéria-prima.
Aproveita-se as altas temperaturas e o
tempo de permanência dos gases no forno para se empregarem combustíveis de
difícil utilização queima como pneus picados. Em outras condições, este tipo de
combustível poderiam emitir altas concentrações de substâncias extremamente tóxicas
(tais como dioxinas e furanos) devido à queima incompleta. Além disso, o
calcário e a cal contidos na mistura, têm a característica de reagir com o
enxofre proveniente dos combustíveis, evitando maiores emissões de óxidos de
enxofre na atmosfera e prevenindo, por exemplo, a ocorrência de chuva ácida.
Coprocessamento
O Coprocessamento é uma técnica já há
muito tempo utilizada em países da Europa, Japão e EUA, onde consiste em
transformar resíduos em combustíveis alternativos e/ou substitutos de matéria
prima, desta forma reduzindo o consumo de combustível fóssil e assim sendo
contribuindo com o meio ambiente.
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